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Los Hermanos - Turnê de 15 Anos - BH 21/05/2012

"É preciso força pra sonhar e perceber 
que a estrada vai além do que se vê [...]"


Para falar do show de ontem do Los Hermanos em Belo Horizonte e da impressão que ele me causou, preciso antes voltar um pouquinho no tempo, para relembrar, mesmo que de forma bem superficial, a trajetória da banda e a importância dela para a cena musical brasileira... Todos devem lembrar de quando a música Anna Júlia estourou nas paradas nacionais em 1999 e das apresentações da banda nos principais programas de auditório do país, contudo se engana quem pensa que eles conquistaram este sucesso estrondoso da noite para o dia, a história já tinha começado dois anos antes na efervescente cena underground carioca. Antes de lançar o primeiro álbum, autointitulado, eles já tinham gravado algumas demos e conquistado um público pequeno mas fiel na cena indie. Na ocasião o som da banda era um misto de hard core com arranjo de metais que remetiam ao samba antigo das fanfarras e as letras eram em sua maior parte sobre desilusões amorosas. A grande oportunidade surgiu quando Paulo André, organizador do festival Abril pro Rock, que acontece mo Recife, foi atraído pela originalidade da banda e a chamou para integrar o cast da edição do festival de 1998. Após este show no Pernambuco, que também seria lançado de forma independente, a banda fechou contrato com a gravadora Abril Music, começaria ali o hype que os transformaria em um curto espaço de tempo na "melhor banda de todos os tempos da última semana"...

Passada esta efervescência o Los Hermanos teve que enfrentar o risco de se tornar uma dentre tantas bandas de apenas um sucesso (aquelas que duram apenas por um verão). A opção feita pela banda foi a de seguir em frente, mas na contramão daquilo que o hit Anna Júlia significara para eles até então, tal postura gerou conflito com a gravadora que chegou a recusar a mixagem final do disco em determinado momento do processo de produção. Após muitos vai e vens o disco chegou ao mercado... Este segundo Álbum, intitulado Bloco do eu Sozinho (2001), já denotava um grande amadurecimento nas composições, tanto nas letras quanto nos arranjos, todavia a "evolução sonora" tirou quase todo o apelo comercial que o disco poderia ter tido, sendo assim a solução estava em mirar mais uma vez para a cena alternativa e foi isso que eles fizeram, eles não voltaram a ser independentes, mas conseguiram a partir de então estabelecer um bom trâmite entre o mainstrean e o underground

O 'cara estranho' da foto sou eu e este é o cartaz da turnê.
A maturidade musical seria alcançada no próximo disco, Ventura (2003), que é na minha opinião o disco nacional mais importante da década passada, e seria ainda aperfeiçoada no quarto álbum, intitulado simplesmente de 4 (2005) - este foi ainda menos "vendável" que seu antecessor, por ser bem mais melancólico e experimental. O distanciamento do Los Hernanos do circuito comercial, que foi muito criticado na época, o favoreceu e muito, com este posicionamento a banda conquistaria o respeito e a admiração de um público que não estava tão sujeito às turbulências da indústria cultural e do mercado fonográfico... Em 2007, no ápice de sua trajetória artística, a banda anunciou que entraria em um hiato por um tempo indeterminado, segundo eles esta seria a oportunidade de cada um dos membros investirem em suas respectivas carreiras solo. O afastamento dos palcos não fez diminuir o culto à banda, pelo contrário, e os constantes boatos sobre uma possível volta não pararam desde então. Alguns shows esporádicos foram  realizados durante este período, mas nada de tão significante, até que no final do ano passado foi anunciada esta turnê na qual a banda se reuniria para comemorar os 15 anos que se passaram desde sua primeira apresentação... 


Algumas das canções do Los Hermanos serviram de trilha sonora para um período de minha vida, no qual eu vivia uma ebulição de sentimentos que nem eu mesmo conseguia compreender, talvez por isso elas tenham ganhado um lugar especial em minha memória afetiva, eu me reconhecia em algumas delas e outras pareciam descrever precisamente situações que eu estava vivendo. Creio que isso não aconteceu só comigo, talvez venha desde mesmo fenômeno uma boa parte dos atuais fãs da banda. Ao meu ver esta identificação acontece porque as canções da banda possuem uma alma, elas têm algo de verdadeiro em suas letras e na forma com que são interpretadas, coisa da qual a música brasileira que toca nas rádios está carente já há um bom tempo. O Los Hermanos consegue falar de amor e de sentimentalismo sem ser piegas e a poética de suas canções está em um nível bem superior ao de outras bandas e artistas que se propõem a falar dos mesmos temas. De uma forma muito bonita eles conseguem nos mostrar através de suas letras que realmente "a estrada vai além do que se vê" e que ainda é possível acreditar no amor, ainda que o sofrimento seja inerente a ele...


Desde que foram divulgadas as datas dos shows eu já estava certo de que queria ir, na verdade eu precisava de ir, basicamente por dois motivos: Primeiro, porque apesar de gostar tanto da banda, eu nunca tinha ido à uma apresentação dela, eu tinha perdido a oportunidade de ir em um show que aconteceu em Juiz de Fora pouco tempo antes deles anunciarem a separação. Segundo, porque este poderia ser simplesmente um dos últimos shows, portanto uma das últimas oportunidades de eu curti-los ao vivo. A verdade é que eu ainda tinha sérias dúvidas de que o "hiato", no qual a banda se encontra até hoje (a turnê por si só não a tira dele), poderia de fato um dia acabar...

De acordo com o que fora divulgado, seriam à principio duas datas em BH, 19 e 20 de maio, para mim estava perfeito. Devido ao meu trabalho o dia 25, que seria um sábado, era sem dúvidas a melhor data. Combinei com um amigo de irmos juntos e ficamos atentos ao dia no qual se iniciaria a venda dos ingressos. Sem me preocupar tanto, no data marcada eu entrei no site no qual os ingressos estavam sendo vendidos cerca de três horas depois do início da comercialização e para minha surpresa eles já estavam esgotados para as duas apresentações, foi uma decepção enorme...


Alguns dias depois foi anunciada uma terceira data, 21/05, uma segunda-feita (!); mesmo sabendo que aquele seria um dia de trabalho e que a capital mineira fica a 5 horas de minha cidade eu não desisti, na data da venda, alguns minutos antes da hora marcada, eu, que estava de férias, já estava conectado atualizando a página para garantir um rápido acesso aos ingressos  (o meu e o do meu amigo) antes que eles se esgotassem novamente. Toda esta precaução não adiantou de nada, logo que foi aberta a comercialização o site travou devido ao enorme número de acessos, fiquei mais de duas horas na frente do computador esperando um retorno do sistema, até que a página foi atualizada com a mensagem "ESGOTADO", desta vez já não era decepção o que eu sentia, era RAIVA! Mas, por incrível que pareça, entrei novamente no site algumas horas depois já no final da tarde e consegui comprar os bilhetes. Pelo que disseram na página do evento no facebook, simular o esgotamento dos ingressos foi uma estratégia do site para solucionar o bug, o que aparentemente deu certo. Não demorou muito e os ingressos esgotaram de verdade, felizmente os meus já estavam garantidos...


Consegui negociar folgas no trabalho para segunda e terça-feira e cheguei em BH no domingo à noite. A minha expectativa já era a melhor possível, eu já tinha a noção de que todo o esforço despendido valeria a pena, só não tinha nem ideia do quanto... O show começou praticamente sem atrasos e a abertura foi feita com a canção O Vencedor, a segunda faixa do disco Ventura, e o que se seguiu foi algo apoteótico, catártico... A banda estava em um sintonia perfeita com o público, que cantou junto cada uma das canções. O longo período de recesso não parece ter sido um problema, a banda estava muito bem entrosada e em plena forma. O ótimo repertório trouxe músicas dos quatro discos, inclusive algumas do primeiro, que raramente eles tocavam ao vivo; no entanto eu senti falta de algumas como Tudo que Sobrou e Do Lado de Dentro, no entanto a falta destas foi compensada pela execução magistral de outras de minhas favoritas da banda como Sétimo Andar (que pode ser conferida abaixo, no vídeo de péssima qualidade que eu fiz), Ultimo Romance, Condicional e Cara Estranho...


Tivemos o privilégio de ficar em um lugar bem próximo ao palco, de onde pudemos apreciar plenamente o maravilhoso espetáculo musical... O local estava lotado, tanto a pista quanto as arquibancadas, em alguns momentos foi possível sentir o chão tremer (o show foi realizado no segundo andar do prédio) tamanha a reação do público às canções. Eu olhava à minha volta e me perguntava: Qual outra banda surgida nos últimos vinte anos conseguiria lotar três shows seguidos em um mesmo local, sendo um destes em uma segunda-feira? A falta de respostas só fazia crescer o meu respeito e a minha admiração por eles. A apresentação durou cerca de duas horas e quinze minutos e ao final dela eu tinha certeza de que eu presenciara algo único, eu acabara de assistir um dos shows de uma turnê que provavelmente entrará para a história, caso a banda não se reúna novamente... Contrariando as minhas previsões, uma esperança em relação ao fim do hiato, nos foi dada pela própria banda que incluiu uma música inédita no setlist, muito boa por sinal. Contudo eu ainda tenho dúvidas se esta canção estará em um provável quinto disco da banda, ou no disco solo do vocalista e guitarrista Rodrigo Amarante, que será lançado ainda este ano... Apesar de meu ceticismo, torço para que eles voltem e de preferência com mais um disco de inéditas! 


Não deixem de conferir aqui no Sublime Irrealidade a resenha crítica do disco Toque Dela, o segundo solo do vocalista e guitarrista Marcelo Camelo!

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